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sábado, 14 de maio de 2011

Ex-atendente do McDonald's, capitã de 31 anos chefia UPP da Bahia

Uma mulher de 31 anos comanda hoje o dia-a-dia da principal aposta do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), para tentar conter o avanço da criminalidade violenta no Estado, problema histórico que se agravou nos últimos anos.
A capitã Domingas Maria Oliveira da Silva, ou Maria Oliveira, como é conhecida, é quem dita as regras na base comunitária de segurança do Calabar, em Salvador, inaugurada há 17 dias, em 27 de abril.
Na manhã do último dia 12, a capitã se dividia em tarefas administrativas: escalas de trabalho dos 120 subordinados, infiltrações no telhado da base, instalação de TV, água. Os olhos, contudo, estavam na rua. “Vamos fazer umas incursões hoje. O pessoal está cobrando: quem é a capitã Maria?”, comentou a uma subordinada.
Foto: Thiago Guimarães/iG
A capitã Domingas Maria Oliveira da Silva em frente ao prédio da UPP
O posto policial é o primeiro na Bahia a tentar reproduzir o modelo das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Rio de Janeiro, iniciado em 2008. A UPP é o centro de um modelo de policiamento comunitário adaptado para áreas de risco. Sua instalação prevê a ocupação prévia de áreas até então dominadas por traficantes, e a posterior aproximação entre moradores e polícia e o fortalecimento de políticas sociais.
Estamos em um momento de paquera, conhecendo a comunidade e a comunidade nos conhecendo”, diz capitã sobre relação com a favela

Resultados positivos elevaram a UPP à condição de “grife” das políticas de segurança no País. Tornou-se promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff, que estimou R$ 1,6 bilhão para fixar 2.883 desses equipamentos pelo país – com os cortes no Orçamento, a promessa ainda não saiu do papel.
Enquanto o dinheiro federal não vem, o governo Wagner, premido pelos índices de criminalidade, bancou R$ 300 mil iniciais do projeto. Seguiu à risca a receita do governo Sérgio Cabral (PMDB) até na nomeação do comando: a primeira UPP do Rio, no morro Dona Marta, também tem uma oficial na linha de frente.
Segundo a PM baiana, pesaram na escolha da capitã sua experiência anterior em policiamento comunitário e a possibilidade de maior “acessibilidade” à população local pelo fato de ser mulher. Dos 31,4 mil PMs baianos, 4.190 (13%) são do sexo feminino, sendo 278 oficiais.
A capitã
Maria Oliveira ingressou na PM aos 19 anos. O primeiro emprego experimentara três anos antes, aos 16, em um McDonald's de Salvador. Após 12 anos de PM, hoje diz ter escolhido a corporação em busca de “estabilidade de emprego”, mas que logo tomou gosto pelo “sistema militar”. “Para mim não era difícil chamar o superior de senhor.”
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Da mesa recém-montada da comandante, apenas arranjos de flores falsas e porta-papéis coloridos quebram o visual de repartição. Há ainda uma lista de telefones dos 120 subordinados e a visão para dezenas de barracos quase colados à janela. Escolhido como “laboratório” pelo governo baiano por ser uma área pequena, a favela do Calabar soma 20 mil habitantes no meio de bairros nobres de Salvador, como Ondina e Jardim Apipema. Traficantes rivais dominavam áreas diferentes da favela e impediam a circulação de moradores entre os territórios em confronto, situação que ainda não se sabe ao certo o quanto retrocedeu.
Maria Oliveira diz reconhecer que o tráfico não acabou na favela e que ainda há resistências à presença policial na área. “Estamos em um momento de paquera: conhecendo a comunidade e a comunidade nos conhecendo.” Tarefa que leva para a cama: seu atual livro de cabeceira, que exibe à reportagem, conta a história do bairro sob o ponto de vista de um morador.
Em casa, a capitã conta usar a TV para fugir da rotina. “Adoro ficção, de realidade basta o que vejo o dia todo”. Se está nervosa, vai aos doces. “Por isso sou gordinha”, afirma a policial, que está noiva e vive com o namorado a cerca de 20 km do novo trabalho – por questões de segurança, pede que a reportagem não divulgue o local.
A policial freqüenta a igreja somente quando levada pela mãe, mas carrega um terço na bolsa e “chama por Jesus três vezes” quando perde a paciência. Embora já tenha efetuado prisões em flagrante e lidado com casos delicados, como estupro de crianças, diz nunca ter atirado em serviço.
Foto: Thiago Guimarães/iG
Maria Oliveira ingressou na PM aos 19 anos. Hoje, comanda a principal aposta do governo de Jaques Wagner

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